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segunda-feira, 22 de junho de 2015

Sit tibi terra levis


Serguei Essenin


O corpo da lenda do blues ainda recebe homenagens pelo planeta, enquanto sua alma não para de trabalhar inspirando guitarras. O genial B.B. King será sepultado em um museu dedicado à sua vida, em Indianola, no Mississipi. Em procissão seu corpo será levado do aeroporto de Memphis, no Tennessee, passará pelo Handy Park, onde pela primeira vez conheceu a fama, e seguirá na derradeira blues highway, até sua cidade natal. Ser enterrado em um museu é a confirmação da lenda, a consagração da obra e o eterno reconhecimento da história.

O funeral do rei do blues e toda reverência, tem a ver com sua postura e dignidade na forma como viveu e como morreu. A arte que enaltece também enlouquece. O escritor Ernest Hemingway tentou por cinco vezes o suicídio antes do êxito, uma das tentativas foi se jogar na hélice de um avião. Confessou a um amigo: ”Não consigo terminar o livro. Não posso. Tudo o que consegui hoje foi uma frase, talvez mais, não sei e não consigo. Nada, entende, nada”.A necessidade de produzir pode se transformar em barbitúrico, no caso de Hemingway esculpiu-se em uma espingarda.

O poeta russo Vladimir Maikovski também deu fim à vida com um tiro no coração. Sem perspectivas para sua arte, esquecido pelo governo o qual tanto batalhou para que fosse possível, com problemas de saúde e infeliz em seus relacionamentos amorosos, apertou o gatilho contra o próprio peito em sua casa, na praça Lubianka, em Moscou. Antes dele, um outro poeta da antiga URSS, Sergei Yesenin, cortou os pulsos em um dos quartos do Hotel Inglaterra, também em Moscou. Há uma versão de que ele teria escrito com o próprio sangue a frase no final de um poema: “Se não há novidade em viver, tampouco há em morrer”. Cazuza, em Ideologia, disse que seus heróis morreram de overdose. Eu entendo essa mensagem como se a falta de inspiração se transformasse em falta de oxigênio, o que leva ao desespero e ao excesso.

Se nem todos os artistas têm um museu-mausoléu como Mrs. King, há os que descansam em um cemitério-museu, na cidade de Paris. Lá estão enterrados alguns daqueles que iluminaram a cidade com a arte e a ciência. Marcel Proust tem um bloco de mármore sobre si; Balzac um busto de bronze; Edith Piaf é cercada por flores e a ossada de Moliére está ao lado da de La Fontaine. Muitos artistas viveram com os cabelos bem cortados e bebiam socialmente, outros empacotavam ratos e tinham um estilo de vida politicamente incorreto.

Se a moda pegasse, eu queria ser enterrado no Louvre para estar acompanhado da Mona Lisa, da Vitória de Samotrácia e da Vênus de Milo. Sem falar que meu endereço passaria  a ser entre o rio Sena e o Champs-Élysées. No museu posso trocar ideias com Rembrandt, Michelangelo, Goya e Leonardo da Vinci. Dizem que quem vive do passado é museu, concordo. Não haveria presente sem o passado, o tempo é essa mola maluca que não para de pular com a gente em cima tentando se equilibrar. O futuro é especulação administrada, mas é especulação. Seria bom se pudéssemos reunir toda essa gente no museu de B.B. King no dia 30 de maio, data de seu sepultamento, para um brinde. Não na taça de uma cerveja de grife, é muito modinha; nem no cálice da última ceia, é blasfêmia; mas com os copos de Baco, tem mais a ver com a turma. Santé!

Ricardo Mezavila.

Escritor

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