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segunda-feira, 22 de junho de 2015

Nuestra América

Gabriela Mistral



Ouvindo Guantanamera: “Eu sou um homem sincero, de onde as palmeiras crescem. E antes de morrer eu quero, lançar meus versos da alma”. Sinto uma força verde-clara que sai de meus poemas, que busca refúgio na montanha. A cor verde pode significar a cor da guerrilha, mas também pode ser a cor do alimento que os camponeses cultivavam para seus filhos, enquanto uma enorme águia sobrevoava  os canteiros. 

Meu verso, agora ferido, não dorme porque precisa ficar de vigília, não pode fazer barulho quando a sombra das minhas palavras tocarem o véu da noite, assim, como um vento meio desajeitado que derruba a vela na cortina, no meio da madrugada. Se isso acontecer, a nossa casa será invadida por um bando capitalista, a gang dos dedos cansados de contar pratas. 

O escritor uruguayo, José Enrique Rodó, sustentou que o fim da criatura humana não podia ser, exclusivamente, o saber, o sentir, o imaginar; mas ser real e inteiramente humana. Viver é cultivar a plenitude e não a tirania dos interesses. 

A escritora chilena Lucila de Maria Del Perpétuo Socorro Godoy Alcayaga, ou, simplesmente, Gabriela Mistral, prêmio Nobel de literatura em 1945, rompeu a análise do “eu” e passou a olhar para o outro. Educadora e diplomata, colocou sua escrita a serviço das causas nobres. Coisa que rara por aqui. 

Quando viajo pela literatura latino americana, tenho a impressão que o Brasil está, geograficamente, em outro planeta. Ganhar um prêmio com a estatura do Nobel parece que, definitivamente, não está no DNA brasileiro. Tantos países, menores territorialmente, se orgulharam de seus filhos premiados, e a nossa gente “bronzeada”, nada. 

O escritor Umberto Eco disse, em recente entrevista, que a Internet deu voz aos imbecis. Não sendo polêmico como o escritor italiano, mas  já sendo, senti saudades de José Martí, mesmo que o poeta tenha nascido em Cuba e tenha morrido há mais de cem anos. Senti saudades do que não vivi, do que não conheci, do que não conversei. Senti saudades daquela coisa inexplicável que chamamos tempo.

Contudo, meu verso continua ferido, está sentado sob um coqueiro plantado no meio de uma vila de camponeses. Abro o livro “Sencillos”, longo poema de amor. Amor à mulher, ao povo, à pátria, à natureza, a cultura e à humanidade, que a mão sangrenta do “Che” deixou que caísse ao  meu lado, como uma senha, uma mensagem ao gigante sonolento. E sinto que, como brasileiro, tenho uma enorme dívida com José Martí, comigo, com você, com a revolução e com as raízes da América Latina.


Ricardo Mezavila é escritor , autor de “As conversas que tivemos ontem”

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