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segunda-feira, 22 de junho de 2015

De biografias e de plágios

Ferdinand Saussure


Sobre a sociedade, estou falando de todas, a de Sócrates, Jesus, Darwin, Buda, Maomé, Saussure, Shakespeare, Marcelo Nova; de todas as teorias baianas e gregas contrárias, que surgem do tudo e do nada. Sobre as tendências, da academia à rua; da feira hippie de Lumiar à lojinha ecumênica do Lar de Frei Luiz; do restaurante da Sorbonne ao refeitório da Escola Pública, todos são unânimes em afirmar que o plágio, a apropriação indevida sobre uma obra intelectual, configura crime.

Por conta disso vemos autores em completo estado de inanição cultural, tentando extrair a arte de onde só nasce capim. Não que o capim seja desnecessário, capim também faz parte do cenário, mas cresce em qualquer solo e, na falta de uma flor, pode ser lançado à estatura de um Ingá ou de um Baobá.

Costumamos dizer e acreditar que tudo é cíclico, tudo se renova, então poderíamos admitir que não tem mal algum em reescrever, ou mesmo reinventar tudo aquilo que já esteve por aí. A hipocrisia é uma arte politicamente correta, através dela somos ingênuos, piegas, inconstitucionais, arbitrários e patologicamente cínicos.

Pensei assim quando li que, em decisão unânime, o Supremo Tribunal Federal, liberou as publicações de biografias, sem autorização prévia do biografado. Carmen Lúcia, ministra do STF, disse que “a vida é uma experiência de riscos”.

Nas artes, como na educação, religião e política, nada mais pode ser inventado, pelo menos nada tem acontecido que prove o contrário. Não há mais piche para asfaltar a estrada da humanidade, tudo está devidamente pavimentado. Essa procura pelo novo só desfaz aquilo que estava pronto. A gente perde muito tempo pensando em novidades e acaba deixando escapar a felicidade. Perdemos muito tempo tentando desconstruir o que levou milênios, séculos, décadas e segundos para ser erguido e, não se enganem, o tempo não compra ingresso para esperar pelo espetáculo.

Que outras medidas venham para alimentar e fertilizar esse terreno, sem preconceito, sem censura e sem egoísmo. Queria que todas as obras escritas, encenadas, cantadas e coreografadas, fossem generosamente plagiadas com açúcar e com afeto, com detalhes, no passo da garota de Ipanema, no balanço do Zé pretinho, dentro da casa grande e da senzala, nos sertões e nas veredas, na turma da Mônica e do menino maluquinho.

Chico Buarque cantou “amou daquela vez como se fosse a última”. Tudo bem, que não seja a última, que venham muitas outras vezes, mas que a próxima leve um tempo razoável para que a gente ainda sinta o gosto desse amor. Vamos plagiar o que é bom, quem sabe o jardim seja menos instantâneo e um pouco mais eterno enquanto dure.



Ricardo Mezavila

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