Sobre
a sociedade, estou falando de todas, a de Sócrates, Jesus, Darwin, Buda, Maomé,
Saussure, Shakespeare, Marcelo Nova; de todas as teorias baianas e gregas contrárias,
que surgem do tudo e do nada. Sobre as tendências, da academia à rua; da feira
hippie de Lumiar à lojinha ecumênica do Lar de Frei Luiz; do restaurante da
Sorbonne ao refeitório da Escola Pública, todos são unânimes em afirmar que o
plágio, a apropriação indevida sobre uma obra intelectual, configura crime.
Por
conta disso vemos autores em completo estado de inanição cultural, tentando
extrair a arte de onde só nasce capim. Não que o capim seja desnecessário,
capim também faz parte do cenário, mas cresce em qualquer solo e, na falta de
uma flor, pode ser lançado à estatura de um Ingá ou de um Baobá.
Costumamos
dizer e acreditar que tudo é cíclico, tudo se renova, então poderíamos admitir
que não tem mal algum em reescrever, ou mesmo reinventar tudo aquilo que já
esteve por aí. A hipocrisia é uma arte politicamente correta, através dela
somos ingênuos, piegas, inconstitucionais, arbitrários e patologicamente
cínicos.
Pensei
assim quando li que, em decisão unânime, o Supremo Tribunal Federal, liberou as
publicações de biografias, sem autorização prévia do biografado. Carmen Lúcia,
ministra do STF, disse que “a vida é uma experiência de riscos”.
Nas
artes, como na educação, religião e política, nada mais pode ser inventado,
pelo menos nada tem acontecido que prove o contrário. Não há mais piche para asfaltar
a estrada da humanidade, tudo está devidamente pavimentado. Essa procura pelo
novo só desfaz aquilo que estava pronto. A gente perde muito tempo pensando em
novidades e acaba deixando escapar a felicidade. Perdemos muito tempo tentando
desconstruir o que levou milênios, séculos, décadas e segundos para ser erguido
e, não se enganem, o tempo não compra ingresso para esperar pelo espetáculo.
Que
outras medidas venham para alimentar e fertilizar esse terreno, sem
preconceito, sem censura e sem egoísmo. Queria que todas as obras escritas,
encenadas, cantadas e coreografadas, fossem generosamente plagiadas com açúcar
e com afeto, com detalhes, no passo da garota de Ipanema, no balanço do Zé pretinho,
dentro da casa grande e da senzala, nos sertões e nas veredas, na turma da
Mônica e do menino maluquinho.
Chico
Buarque cantou “amou daquela vez como se fosse a última”. Tudo bem, que
não seja a última, que venham muitas outras vezes, mas que a próxima leve um
tempo razoável para que a gente ainda sinta o gosto desse amor. Vamos plagiar o
que é bom, quem sabe o jardim seja menos instantâneo e um pouco mais eterno
enquanto dure.
Ricardo
Mezavila
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