Quando
vi a obra de Salvador Dali intitulada, Idilio
atómico y uránico melancólico, na exposição que está aberta no Centro
Cultural Banco do Brasil, imediatamente, não sei porquê, fui remetido ao disco Outras
Palavras, de Caetano Veloso. O long play estava arranhado entre Rapte-me
camaleoa e Dans mon íle, exatamente no último acorde da primeira música
ouvia-se três vezes o som da agulha no arranhão, com intervalo e logo em
seguida a segunda canção começava.
O
surrealismo de Dali está na atmosfera dos salões, a gente começa a sentir isso
quando percebe que as coisas não fazem muito sentido, mas são importantes de
alguma forma. Pensar fora da ordem moral e social de maneira espontânea nos
leva para um passeio por dentro da memória, no jardim das informações.
Passeamos por lugares onde nada existe a não ser a ausência da lógica, o
silêncio dos impulsos e a desagregação dos limites.
Olhar
um quadro de Salvador Dali é um ato de desprezo às conseqüências, é transgredir
para além dos modelos retos e dinâmicos. É imaginar um caminhão de príncipes
tombando na estrada junto com as suas marmitas, enquanto um grupo de lavradores
se reúne no castelo para decidir os rumos do reino e repartir as riquezas da
coroa.
O
pensamento burguês e a estupidez da guerra são uma ruptura com a realidade daquilo
que é comum, contudo é através das regras ditadas pela burguesia e com o temor
imposto pela guerra que o surreal pratica suas inatividades
anti-revolucionárias, inexistindo para as teorias de circunstancias.
Rapte-me
camaleoa, adapte-me ao seu ne me quittes pas – tum...tum...tum... - Dans mon íle, ah comme on est bien.
Ricardo Mezavila.
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