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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Maracanazo antecipado



maracanazo


Faltam poucos dias para o início da copa e parece que já perdemos a final, um novo Maracanazo, só que antecipado. O silêncio histórico causado pela chuteira de Ghiggia, naquele dezesseis de julho, calou a alegria, o otimismo, o orgulho patriótico que saía das línguas e invadia as ruas enfeitadas. Inacreditável, é esse o adjetivo, para definir o que está acontecendo hoje. Nem o pessimista por mais “urubuzado” que fosse, arriscaria que o clima pré-copa fosse estar tão desanimado.

Será que o povo percebeu a tempo que os governantes se aproveitam dos gols dos nossos craques para tentar transformá-los em votos? Será que o futebol não é mais aquela paixão de antes? Nada disso. Acredito que um grande constrangimento coletivo está pairando sobre os nossos dias, uma anticatarse, um apocalíptico sorriso amarelo do Oiapoque ao Chuí, como costumamos dizer.

Confesso que estou consciente na “patrulha”, já não torço pela seleção desde 1986, então é fácil não torcer agora, mas começo a sentir o peso de conviver com quem quer torcer, mas não tem coragem. Parece que a ditadura voltou, e torcer pela seleção pode acabar em uma cadeia do DOPS, sob tortura. “A minha gente hoje anda falando de lado e olhando para o chão”, é por aí. A culpa é do governo! Bordão criado para um programa humorístico e que reflete a metade da culpa, a outra metade é nossa, porque elegemos o governo.

Estou disposto a liberar as pessoas do meu relacionamento a torcer, não vou mais patrulhar a alegria de ninguém com minha cara de falso censor, afinal demoramos tanto a conquistar a democracia que os rabugentos de plantão não tem mais espaço nas nossas festas, que fiquem mastigando solitários as palavras de ordem contra o sistema. Que façam suas observações irônicas, como: “engraçado, não vi nenhum carro com a bandeirinha do Brasil na janela”, ou, “na última copa as ruas já estavam enfeitadas nesse período”. Sim, o clima está tenso, mas se não houvesse copa, a educação, saúde, segurança e transporte estariam mais eficientes?

A gente passa e tudo permanece do mesmo jeito, não vai ser querendo a derrota da seleção que nossos problemas serão resolvidos. Seria ótimo se depois da copa as pessoas estivessem mais conscientes e fizessem valer os seus direitos; seria da maior importância que os legisladores, sentindo a pressão das ruas, discutissem as prioridades com transparência e colocassem na discussão do dia as reformas que tanto desejamos. Protestar também é uma bandeira, mas não de estádio, que tem de estar presente quando o assunto for de interesse social e econômico, não cabe colocar o futebol nisso.

Mantenho a minha decisão de não torcer, porque não consigo, mas seria bom se o clima esquentasse nas ruas, que tivessem mais bandeiras nas janelas, ruas enfeitadas e crianças participando. Nós, brasileiros, não temos fama de ranzinzas, de mal humorados, talvez a alegria seja o maior dos protestos nessa hora, pode ser a arma que falta para nos enxergarmos inteiros para, depois sim, chamarmos na “xinxa” aqueles que inventaram o pecado.


Ricardo Mezavila

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