Eu
tinha esquecido como era morrer, mas hoje de manhã eu lembrei e, antes que
esqueça, vou contar para não ter que passar mais por isso. É assim: Tome várias
caipirinhas no Lampião e Maria Bonita que a mulher da foice faz o resto. Ficar
dentro de um caixão é igual a entrar dentro de um taxi, a gente é transportado
por alguém para o descanso, o destino pode ser a casa do pai, ou não, e nem
sempre tem um anjo a nossa espera.
No
outro dia é tudo a mesma coisa por isso posso afirmar que, há sim, vida após a
morte, e não tem diferença dos outros dias. É parecido com sonhar que estamos
voando com o corpo ausente e transparentes para quem nos olha; como um
lobisomem que, ao voltar ao estado humano, acorda em uma praia desconhecida e
não sabe o que está fazendo e como foi parar ali.
Mas
como existe vida ainda, então temos que fazer as coisas que andamos adiando por
anos e que pedem uma solução. Temos que perdoar, conversar, amar e tantos
outros adiamentos que acordam junto com a ressaca e ficam latejando nas
têmporas até o café e um pouquinho depois do almoço e do sonrisal.
Se
tudo continua e chove lá fora e aqui faz tanto frio, acredito que ainda não se
esgotou a minha vontade de ouvir Eleanor Rigby, tenho que conhecer o Uruguai
durante a copa do mundo e agradecer à Beatriz por me dá um neto. Guilherme vai
fazer sete e eu cinqüenta e cinco, daqui há onze vai estar com dezoito e eu
sessenta e seis, ressacas melhores virão.
Ricardo
Mezavila
Nenhum comentário:
Postar um comentário