Todo
mundo já ouviu dizer, ou disse, que há um monstro dentro de cada um de nós.
Isso significa que há desejos reprimidos, vidas insatisfeitas e rotinas maçantes
pedindo mudança, exigindo urgência nas atitudes. Mas tem gente que alimenta o
monstro de inércia, apatia e fraqueza. E, não demora, ele surge destemido para
lutar contra o nada, para ferir quem estiver por perto, para depois voltar à
caverna e miar como um gatinho diante da sua acomodação.
Um
amigo contou que o monstro saiu de dentro dele procurando justiça com as próprias
mãos, colocando em risco a sua integridade física e moral. Sem entender o que
fazia, assim, de repente, numa explosão emocional e insana, ele decidiu vingar a
sua filha que tinha sido assaltada. Saiu, quer dizer, o monstro saiu de casa, percorreu
todo o quarteirão atrás do ladrão e, felizmente, segundo ele mesmo, não o
encontrou. Ufa! Ainda bem.
Espiando pela janela da casa do amigo percebi que ele não é feliz, ele deixou de lado algumas
coisas que a gente não pode perder enquanto envelhece, como por exemplo: a
capacidade de gostar e de fazer o que se gostava e se fazia com prazer. O tempo
passa de qualquer jeito, envelhecer não significa deixar de ser jovem, mas é
saber que a juventude ainda permanece naquilo que ainda gostamos de fazer.
Esse
monstro não existe dentro de ninguém, o que parece ser o monstro, não passa de
uma compensação para as frustrações e arrependimentos, uma saída de emergência para
quem está trancado dentro do apartamento em chamas. O monstro não quer caçar ladrões
nas ruas, não quer ser o herói do dia, quando surge ele só está dizendo que não
aguenta mais a passividade e a falta de perspectiva dele, o “monstro”.
A
imagem que tenho é que o monstro se parece com aquilo que nos fizeram chamar de
“o gigante adormecido”, a imagem de um gigante de pedra que vai se levantando
devagar, fica sentado, depois de joelhos e, finalmente, se levanta como quem
chegou para mudar e tomar conta de tudo. Essa imagem é positivamente bacana, fique
com ela e esqueça a lenda do monstro e tudo fará mais sentido nos seus dias.
Ricardo
Mezavila
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