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terça-feira, 18 de março de 2014

A raiz da violência

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Quem vive em comunidades desassistidas pelo estado, sabe que um copo de café pode ser confundido com uma arma, e tudo o que se move pode vir a ser abatido e justificado como legítima defesa. Isso demonstra como os profissionais são despreparados para exercerem suas funções básicas. A polícia tem como finalidade constitucional preservar a ordem pública, de proteger pessoas e o patrimônio, e realizar a investigação e repressão dos crimes, além do controle da violência. Todos sabem a quem culpar no lamentável e chocante episódio no Morro da Congonha, onde a trabalhadora e mãe Claudia Ferreira da Silva foi estupidamente e covardemente morta, mas quem é o verdadeiro responsável?

Não acredito que um profissional saia de casa para fazer o que os policiais fizeram assim, deliberadamente. A falta de preparo e treinamento, aliada a carência educativa e cultural, que nos é negada pelo sistema político-pedagógico, contribuem para os equívocos cometidos por essa corrente dominante.

As instituições estão no cerne de todo os processos que conduzem nossas vidas, deveriam ser as estrelas a nos guiar em paz e com felicidade no coração, mas uma nuvem pesada e resistente ao vento não deixa que ela fique visível.

 Há alguns anos, em 2002, realizamos, na Casa do Menor Trabalhador, uma série de fóruns sobre violência que chamamos de: “Colóquio Juvenil sobre a Raiz da Violência”, concebido e ministrado pelo Dr. Paulo Araújo, Médico pesquisador em Medicina Mental, que seria um termômetro para que entendêssemos o porquê de uma turma segregar outra na mesma classe.

Entre todos os jovens participantes, quase a totalidade moradores em comunidades dominadas por facções diferentes, não havia quem não estivesse assustado e confuso com os fatos do dia-a-dia de nossa cidade. Um dos jovens resumiu o colóquio assim: “Fiquei impressionado com a raiz da violência. As crianças da favela seguem os exemplos dos bandidos. Me afastei dos bailes. Prefiro ficar em casa vendo televisão ou vou para a praia. Mudei de endereço. Agora, estou morando com a minha tia para sair daquela situação de risco".

Percebemos durante o colóquio que a crise de identidade é a causa básica dos distúrbios de caráter e de comportamento e que, objetivamente, sustenta as contradições e os conflitos humanos. A falência dos sistemas econômico e financeiro, político, religioso e pedagógico ficaram tão evidentes que parecia que não havia mais nada a ser feito além de reconhecermos que fracassamos.

A experiência que tivemos evidenciou o descaso com a educação, o abandono a que os jovens foram atirados por um sistema agressivo e subserviente às castas privilegiadas.

Isso foi há doze anos e hoje ainda assistimos pessoas trabalhadoras e honestas sendo tratadas como se fossem intrusas na sociedade, espezinhadas em seus direitos, oprimidas pela sonegação de conhecimento, alijadas por identificação étnica e econômica.

As cenas em que Claudia é arrastada pelas ruas por um carro governamental, define muito bem o lugar em que o governo quer que fiquemos.

Ricardo Mezavila.


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