Quem vive em comunidades
desassistidas pelo estado, sabe que um copo de café pode ser confundido com uma
arma, e tudo o que se move pode vir a ser abatido e justificado como legítima
defesa. Isso demonstra como os profissionais são despreparados para exercerem
suas funções básicas. A polícia tem como finalidade constitucional preservar a
ordem pública, de proteger pessoas e o patrimônio, e realizar a investigação e
repressão dos crimes, além do controle da violência. Todos sabem a quem culpar
no lamentável e chocante episódio no Morro da Congonha, onde a trabalhadora e
mãe Claudia Ferreira da Silva foi estupidamente e covardemente morta, mas quem
é o verdadeiro responsável?
Não acredito que um profissional
saia de casa para fazer o que os policiais fizeram assim, deliberadamente. A
falta de preparo e treinamento, aliada a carência educativa e cultural, que nos
é negada pelo sistema político-pedagógico, contribuem para os equívocos
cometidos por essa corrente dominante.
As instituições estão no cerne de
todo os processos que conduzem nossas vidas, deveriam ser as estrelas a nos
guiar em paz e com felicidade no coração, mas uma nuvem pesada e resistente ao
vento não deixa que ela fique visível.
Há alguns anos, em
2002, realizamos, na Casa do Menor Trabalhador, uma série de fóruns sobre
violência que chamamos de: “Colóquio Juvenil sobre a Raiz da Violência”,
concebido e ministrado pelo Dr. Paulo Araújo, Médico pesquisador em Medicina
Mental, que seria um termômetro para que entendêssemos o porquê de uma turma
segregar outra na mesma classe.
Entre
todos os jovens participantes, quase a totalidade moradores em comunidades
dominadas por facções diferentes, não havia quem não estivesse assustado e
confuso com os fatos do dia-a-dia de nossa cidade. Um dos jovens resumiu o
colóquio assim: “Fiquei impressionado com a raiz da violência. As crianças
da favela seguem os exemplos dos bandidos. Me afastei dos bailes. Prefiro ficar
em casa vendo televisão ou vou para a praia. Mudei de endereço. Agora, estou
morando com a minha tia para sair daquela situação de risco".
Percebemos durante o colóquio que a crise de
identidade é a causa básica dos distúrbios de caráter e de comportamento e que,
objetivamente, sustenta as contradições e os conflitos humanos. A falência dos
sistemas econômico e financeiro, político, religioso e pedagógico ficaram tão
evidentes que parecia que não havia mais nada a ser feito além de reconhecermos
que fracassamos.
A experiência que tivemos evidenciou
o descaso com a educação, o abandono a que os jovens foram atirados por um
sistema agressivo e subserviente às castas privilegiadas.
Isso foi há doze anos e hoje ainda assistimos pessoas trabalhadoras e honestas sendo tratadas como se fossem intrusas na sociedade, espezinhadas em seus direitos, oprimidas pela sonegação de conhecimento, alijadas por identificação étnica e econômica.
Isso foi há doze anos e hoje ainda assistimos pessoas trabalhadoras e honestas sendo tratadas como se fossem intrusas na sociedade, espezinhadas em seus direitos, oprimidas pela sonegação de conhecimento, alijadas por identificação étnica e econômica.
As cenas em que Claudia é arrastada
pelas ruas por um carro governamental, define muito bem o lugar em que o
governo quer que fiquemos.
Ricardo
Mezavila.
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