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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Malandro das Letras




Tem pessoas que nascem para ser poeta e outras para ser poesia. Assim, desta forma difícil de explicar, existe um hiato, uma centelha, um estalo, um corisco, uma faísca, um cheiro, que surge de repente e que vai embora do mesmo jeito. Chega do nada como abelhas que polinizam as flores; a semente se instala em algum lugar, que pode ser na nascente do sangue, no tecido da pele, no contorno do coração ou no fio invisível que dá movimento ao corpo.

Eu comecei a escrever ouvindo a poesia que as pessoas sentiam, mas não escreviam. Ainda escrevo por isso: um vento, uma palavra, um olhar. Nasci homem, mas sou máquina, meus dedos são teclas de letras, meu pensamento é um oásis que vive daquilo que não é escrito. Sou poeta, malandro das letras. Meu terno branco é o farol e faço do meu chapéu um banquinho para sentar na esquina e olhar os dias.

Às vezes o silencio do vento traz as nuvens da inspiração e, com elas, o som da tempestade faz vibrar com calma os relâmpagos por cima da rotina. Depois tudo segue normal, dentro da ordem das sombras, nos passos das horas, na moral dos sonhos permitidos, nas reflexões irrefutáveis e na bagunça da natureza mal vestida.

O poeta e a preguiça são da mesma laia, farinha do mesmo saco. E é aí que o malandro aproveita, porque é da mesma linhagem, e faz uma arrumação com as palavras, deixando a casa bonita e arrumada para receber visitas. Um esfregão aqui, uma flanelada ali, um tapete de boas vindas na porta, joga o lixo fora e... tá tudo certo.

O poeta e a poesia são gêmeos fecundados nas estrelas, filhos do universo. Existem nas inexistências, são fatos que não acontecem de fato, brotam do vazio e se espalham pelo chão de verbos formando estradas. O poeta é o fogo, a catimba, o malandro; a poesia é a fumaça, a elegância e o divino.

Ricardo Mezavila


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