Quando abrimos os olhos, pela
manhã, o universo inteiro nos dá as boas vindas, nos recebe com suas energias
renovadas. Não percebemos de imediato, mas logo vem um pensamento nos avisar de
que o dia é nosso, que o nosso dia é hoje. Isso acontece desde sempre, todos os
dias. Então levantamos e calçamos os sapatos da rotina, vestimos as roupas das
obrigações e caminhamos, esquecidos de que fomos recebidos pelo universo de
braços abertos, mergulhamos no dia comum e descartamos o dia especial.
Durante toda a vida o ciclo do “esse dia é seu” se renova independente
da nossa vontade ou conhecimento. Ele é um dos elementos vitais que nos mantém
acesos, bonitos, perceptíveis e disponíveis.
Isso me faz imaginar a cena de
uma mulher caminhando por estradas, debaixo do sol, da lua, das nuvens, da
chuva e das estrelas. Ela caminha sempre para frente, na direção que apontam os
dedos de seus pés. Ela sabe que, se não parar de caminhar nunca, chegará ao
mesmo lugar de onde partiu; e se desistir da caminhada nunca saberá se
conseguiria realizá-la.
Quando se sente cansada a ponto
de pensar em desistir, ela mexe os dedos dos pés, e é como um afago na sua
determinação. No percurso encontra placas com dedos apontando “ali”, “aqui”, “lá”, mas ela segue a
direção de seus próprios dedos, assim, como uma folha que, caída na corrente de
um rio, dança movimentos clássicos de um ballet renascentista, valorizando a
coreografia e fazendo brilhar a bailarina.
Essa mulher está em todos nós,
dorme e desperta conosco, abre a porta para a gente entrar em casa, descobre a
chave das nossas lembranças perdidas, avisa quando o amor está por perto
esperando a hora, surge na janela e pede um sorvete de morango, ri de tudo que
a gente fala. Ela é a vida, uma senhora tão bonita como os sonhos dos nossos
filhos. Tão grande quanto as pequenas coisas do dia a dia, tão pequena quanto as
grandes coisas que desperdiçamos por medo.
Então abrimos os olhos e tudo
está lá novamente: Nós, o mundo e a vida. Vamos vivê-la hoje, ela não é alguém
que a gente possa pedir para voltar outro dia.
Ricardo Mezavila
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