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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Abelhas da Primavera




De longe ouço a voz dos irmãos, que um dia estiveram por aqui e me beijaram o rosto, riram a minha risada e olharam para o vazio das perguntas sem respostas. Longe, ouço todas as canções que um dia nós fizemos, em harmonia com a natureza, com o vento, que sempre vive entre um silencio e outro. As árvores vão balançar as suas folhas, o asfalto vai queimar os nossos pés, as máquinas irão funcionar com seus tons de suor, a lua reinará na noite abençoando nossos sonhos.

De longe, lá de longe, ouço a voz dos irmãos que um dia pisaram na calçada que pisamos, desceram as ladeiras debaixo da chuva e olharam quando o arco-íris despontou no céu, balançaram a cabeça sorrindo de uma borboleta colorida repousando em uma flor, sentaram no muro da casa da esquina e coçaram a cabeça de um pequeno cãozinho.

De longe, mas cada vez mais longe, ouço a voz dos irmãos que se foram em uma manhã ensolarada, pegando carona na garupa de um raio solar, saltando as nuvens e brincado com os pássaros, atravessando o tempo de uma respiração e o espaço entre uma e outra batida do coração.

Fiquemos todos de sentinela, pois a vida passa com a doçura do mel, mas também com os ferrões da pequena abelha que o produz. Fiquemos alerta para que a surpresa não nos recepcione na próxima estação, toquemos o barco com o remo firme em nossas mãos para que uma onda maior não nos surpreenda.

Lá vai a voz misturando-se com o barulho da cidade, sumindo no calendário como a antiga roupa que usamos na formatura. As calças já podem estar curtas, já podem faltar botões nas camisas, a comida vai esfriar em cima da mesa, a poeira dos sapatos vai acomodar entre o cadarço e a sola, e os sinos vão tocar uma canção diferente na primavera desta manhã de sol e de saudade.

Ricardo Mezavila

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