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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Bloco Eu Sozinho




Aperto o botão de minha remota memória, dos tempos em que eu era criança, na década de 1960, para construir uma ponte que me leve e depois me traga de volta, aos antigos carnavais de rua. Não há como não ficar saudosista diante de uma Avenida Rio Branco, completamente tomada por foliões, em pleno domingo ensolarado, a sete dias da folia oficial, na companhia de filhas e neto.

Recordo da banda que tocava no coreto do jardim do Méier; das fantasias de “bate bola”, carrasco, sarongue (um pano amarrado na cintura), marinheiro, índio, pirata. As ruas repletas de foliões dançando ao som das marchinhas de Lamartine, Roberto Kelly, Braguinha, etc. Havia o cheiro do carnaval, o “lança perfumes”, que os adultos esborrifavam pelas ruas.

Os blocos Bafo da Onça e Cacique de Ramos tinham status de escolas de samba, sem contar que eram muito mais animados e democráticos. Mangueira, Salgueiro, Portela e Império Serrano eram consideradas as quatro “grandes” escolas. Mas também tinha a Imperatriz Leopoldinense, Mocidade Independente de Padre Miguel, São Carlos, Vila Isabel e Em cima da Hora que desfilava com sambas de enredos antológicos como Os Sertões (tinham outras escolas, mas minha memória está lenta).

Voltando à Avenida Rio Branco de agora, sinto um pouco de inveja da juventude, porque na década de 1970, quando eu era jovem e podia aproveitar melhor da festa profana, o carnaval de rua estava adormecido. Ninguém mais ia para as ruas com a alegria de antes e com as roupinhas generosas de hoje. O grande boom eram os bailes nos clubes ou mochilas nas costas para disputar um pedaço de areia entre Saquarema e Arraial. Ficar em casa e assistir desfiles pela televisão, das oito da noite às duas da tarde do dia seguinte, ninguém aguentava.

Recordar é viver! Lembro de um senhor vestido de pierrot andando pela cidade, em plena folia, segurando uma placa “Bloco Eu Sozinho”. Pesquisando, soube que foi Júlio Silva, em 1919, o seu criador. Até 1979, ano de sua morte, o bloco continuou ativo. Então o pierrot solitário e triste que eu via passar nas ruas da cidade, por entre os alegres foliões, era o original.

Agora vou implodir a minha ponte do tempo, como a perimetral, afundar  no mergulhão e emergir em um dia ensolarado do carioca fevereiro, abrir os braços para a alegria e viver comigo, sempre; Sozinho, nunca.

Ricardo Mezavila

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