mudanças (Vanusa)
Existe, amiúde, uma linha do tempo, discreta, costurando os acontecimentos, confeccionando o tecido das ações com dedos sensíveis, generosos e disponíveis para oferecer calor em dias de muito frio. Às vezes, a cega ingratidão cuida de escurecer o tempo e a linha se parte, desprezada, fica encostada na margem como um objeto jogado fora, que a correnteza arrasta.
A porta do esquecimento é larga, com muitos tapetes de boas vindas. Passando por ela entramos no vazio da memória atemporal. Assim, como um pregador sem pressão, o esquecimento nos torna quase inúteis.
O bem feito quando menosprezado, é impropriamente incorporado ao patrimônio daqueles que usufruem como se algum mérito tivessem. Emergem de suas tramas diabolicamente com um abominável sorriso que, não tem como, escondem “porcamente” suas feridas morais.
O mundo convive com pessoas que vampirizam a matéria, os ideais e que se alimentam da tristeza do outro como se estivessem em um “churrasco de lágrimas.” Derrubam, com a marreta, o sólido muro que o outro construiu e diz que foi o vento.
A indiferença não destrói a beleza e a alegria. Como na canção :“a minha poesia você não rouba não”.
E, assim, pedras preciosas vão ficando no canto das calçadas, esquecidas, às vezes, ridicularizadas por quem nunca vai brilhar. Como a cantora Vanusa, ícone das lutas feministas, levantou várias bandeiras em uma época de silencio repressor. Compositora de letras de cunho revolucionário pelos direitos da mulher.
E se guardou lá fora
Fui eu quem num esforço
Se guardou na indiferença
Fui eu que numa tarde
Se fez tarde de tristezas
Fui eu que consegui
Ficar e ir embora...
E fui esquecida
Fui eu!”
Ricardo Mezavila
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