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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Homem que come gente

As artes plásticas sempre me impressionaram pela admiração ou desconfiança que elas transmitem. Participei como jurado popular em salão beneficente, na Sociedade Brasileira de Belas Artes, com mais dois especialistas e não decepcionei. Meu olhar leigo foi capaz de, entre as obras expostas, indicar a mesma tela que os olhares profissionais indicaram para receber o premio máximo.

Não é difícil, mesmo não sendo estudioso, reconhecer o valor de um quadro. A intenção do artista é muito importante. Experimentei isso observando a tela “Paraty”, a primeira colocada. O artista foi fiel aos antigos casarios da cidade histórica. As ruas alagadas, os antigos lampiões preservando suas características, as sombras e os reflexos nas poças destacadas pelo pincel.           

Desconfio quando estou diante de uma arte abstrata geométrica não representativa da realidade concreta formal, com linhas superficiais contornando a esfera latitudicional, condicionando as características diversas do ambiente visual focado em uma tendência científica e intelectual. (?)

Sou admirador de Tarsila do Amaral (1886-1973), pintora e desenhista, uma das figuras centrais da pintura brasileira e da primeira fase do movimento modernista. Seu quadro 
Operários é imensamente representativo, os rostos, as fábricas e a cidade. Mesmo sem entender de arte qualquer pessoa é capaz de compreender o seu significado.

Outro quadro de Tarsila que desde sempre me chamou atenção é o Abaporu. Aquela figura de pés e mãos grandes e cabeça pequena. Sempre que olho tenho a impressão de que o sol é a cabeça. A pintora valorizou o trabalho braçal e desvalorizou o intelectual na obra, por isso a desproporção dos pés, mãos e cabeça. Outra característica do quadro é o significado de seu nome originário do tupi aba (homem), pora (gente) e ú (comer) “homem que come gente”, uma referência à antropofagia modernista, que tinha como proposta engolir a cultura estrangeira e adaptá-la à realidade brasileira.

Esse Abaporu até que é bem adaptável à minha realidade (também tenho os pés grandes) ic!

Ricardo Mezavila

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