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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A conta, por favor !

Se você quer saber quem são seus amigos, compre um bar. Essa afirmação verdadeira não está em nenhum livro. Faz parte de frases ditas dentro dos botecos e que traduzem, sem a psicologia acadêmica, o universo característico e próprio do ambiente.

O bar tem dois lados, o de dentro e o de fora. Nada pode ser tão bem dividido quanto esse espaço democrático. Paradoxalmente à relação hierárquica, aquele que serve é justamente quem decide até que horas você vai poder ficar ali. Podendo inclusive molhar suas meias caso você não perceba que foi dado o sinal, geralmente cadeiras viradas sobre as mesas.
   
O dono do bar além de servir e dar o troco, também é guarda de trânsito. Entra sempre alguém perguntando onde fica a rua tal;  Analista. Ouve os problemas pessoais e   a sua opinião é solicitada; Confidente. É obrigado a saber minúcias da vida alheia sem que demonstre interesse. Comentarista. Os freqüentadores sempre querem saber seu comentário sobre o jogo; Repórter. Tem que saber de tudo o que está acontecendo pela tv, e atualizar os desinformados; Celebridade. Alguns ficam horas na porta do bar ansiosos por sua chegada; Gente boa. Quando concede fiado e filho da puta quando nega.
           
Os freqüentadores também tem seus estágios. O sábio. Com mais alguns goles, se torna o cara mais inteligente do local, domina praticamente todos os assuntos, conhece tudo; Rico. Começa a pagar bebida pra todo mundo, afinal de contas todos viram seu amigo, marca festas e churrascos; Invisível. Faz um monte de coisa errada e pensa que ninguém está vendo; Inconveniente. Fica pendurado no pescoço dos outros contando piadas sem graça e ainda olhando para mulher acompanhada.
           
Quem já assumiu o comando desse tipo de estabelecimento comercial tão diversificado culturalmente, costuma dizer que é parecido com uma “prisão”. Sem horário estabelecido para funcionar, fica à mercê das repetitivas e intermináveis saideiras.
          
Os botequins surgiram com a abertura dos armazéns portugueses no Rio de Janeiro do século 19 e, desde então, tornaram-se um dos pilares da cultura brasileira.
         
Segundo Bruno Ribeiro, jornalista, antes de se tornar o ponto de encontro de boêmios, jornalistas, intelectuais, artistas, estudantes, trabalhadores de todas as áreas, enfim, o boteco já manifestava sua vocação para ser o microcosmo perfeito da sociedade brasileira. No tempo dos armazéns portugueses, quando ainda não havia o botequim propriamente dito, as mulheres compravam verduras e legumes no local; enquanto isso, os maridos aproveitavam para beber uns tragos de vinho, escorados no balcão. Logo, este hábito virou prática cotidiana e, aos poucos, o Rio de Janeiro estava repleto de armazéns que serviam bebidas e petiscos.  O costume de se reunir nestes comércios para falar de política ou futebol começou a ser passado de pai para filho.
  
No início da década de sessenta o bar e restaurante Zicartola, do compositor Cartola e sua esposa D.Zica, tornou-se local de reuniões de pessoas contrárias ao regime militar e defesa cultural da música brasileira que, segundo os músicos que lá se reuniam, estava ameaçada pela canção estrangeira.

Ricardo Mezavila

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