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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dragão do Mar

    
No mês de maio, no ano de mil novecentos e oitenta e oito, em algumas capitais brasileiras houve manifestações pela passagem do centenário da assinatura da lei áurea. Os meios de comunicação, governo, privilegiados e ignorantes esperavam uma grande festa popular organizada pelos movimentos negros, para homenagear a princesa.

O Instituto de Pesquisa da Cultura Negra e outros movimentos do Rio de Janeiro com apoio de partidos políticos, organizou uma caminhada que estava prevista para seguir da Candelária até o monumento à Zumbi, na Praça Onze. A manifestação pacífica foi proibida, até hoje não sei se alguma autoridade de dentro comando militar do leste assumiu a responsabilidade, mas o fato é que durante todo o dia o centro do Rio foi tomado por seiscentos soldados das Forças Armadas e mais um efetivo da polícia militar para impedir o ato, em alegação a uma informação de que haveria depredação ao Panteão onde estão os restos mortais de seu patrono, Duque de Caxias, na Central do Brasil.

Depois de muita negociação o caminhão de som com uma bandeira estampando um desenho de Zumbi dos Palmares, saiu em direção ao seu monumento. A caminhada foi tensa sob os olhares dos soldados. Ao chegar em frente ao Panteão o caminhão de som parou e várias lideranças discursaram. Foi quando uma parede humana de soldados, como nos piores tempos da ditadura, foi se aproximando de onde estávamos reunidos e começaram a nos provocar batendo com os cacetetes em nossas  pernas, ameaçando de prisão quem continuasse ali.

Cento e vinte e três anos após a questionada lei áurea, os negros pobres e os pobres brancos ainda não conquistaram cidadania plena.

Os heróis oficiais da história do Brasil são brancos, mas vou ocupar esse espaço para falar de um herói legítimo: Francisco José do Nascimento, conhecido posteriormente como o “Dragão do Mar” , símbolo da resistência popular cearense contra a escravidão. O Ceará em 1884, foi a primeira província brasileira a abolir a escravidão. Os abolicionistas, gente da elite, brava e culta são ovacionados pela imprensa nacional contrária à escravidão, mas entre eles havia um jangadeiro negro, humilde, trabalhador do mar: Francisco José do Nascimento, também conhecido como Chico da Matilde. Ele e seus colegas se engajaram à luta em 1881, recusando-se a transportar de suas jangadas para os navios negreiros, os escravos vendidos para o sul do país.

Assim, Chico da Matilde é levado para corte com sua jangada, desfila pelas ruas, recebe chuvas de flores da multidão e ganha novo nome, mais pomposo e mítico: Dragão-do-mar. De lá escreve à mulher: “seu velho está tonto com tanta festa e cumprimentos de tanta gente importante”.


Ricardo Mezavila

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