Apenas a título de informação, o presidente Jair Bolsonaro
visitou o governador Cláudio Castro no Palácio Laranjeiras, um dia antes da
chacina no Jacarezinho.
Essa informação pode não ser nada, mas pode ser alguma coisa
depois da coletiva do subsecretário de polícia civil e do delegado. O subsecretário
atribuiu à justiça, leia-se STF, o crescimento do crime organizado: “De uns tempos pra cá por força de algumas
decisões, de algum ativismo judicial, que se vê hoje muito latente na discussão
social, a gente foi de alguma forma impedido de atuar em algumas localidades e
vimos o crescimento do tráfico”
O delegado emendou em seguida: “Foram 24 mortos, diga-se de passagem nenhum era suspeito, era bandido,
criminoso, traficante e homicida”
Sou carioca, fiz ensino fundamental e médio em uma escola no
Morro do Jacarezinho, tenho amigos moradores do local que perderam, em outra
ocasião, filhos trabalhadores baleados pela polícia na porta de casa.
Não lembro de ter assistido uma coletiva após uma operação
policial em que o Estado, representado pelos seus agentes, tivesse verbalizado
ideologicamente uma ação.
O subsecretário usou termos vulgarmente utilizados pelo grupo
que apoia o presidente da república, como ‘ativismo judicial’, exatamente
quando o presidente trava queda de braço com o STF.
O delegado fez juízo de valor ao generalizar as vítimas ainda
não identificadas como criminosas. Essas práticas não são comuns entre os
agentes especializados e preparados diplomaticamente para transmitirem
tranquilidade à sociedade.
Fora essa questão captada nas entrelinhas, o que vimos foi o
costumeiro massacre do Estado contra o cidadão pobre, preto e favelado. Não é
carimbando a tragédia como ‘a maior chacina da história do Rio’, como faz a
mídia, que o extermínio será combatido, isso é como água que arrasta o sangue
do chão para o bueiro.
O serviço de ‘inteligência’ da polícia executou vinte e cinco
pessoas, sendo um policial, feriu dois passageiros que estavam viajando em um
trem do metrô, invadiu casas de inocentes causando terror e barbárie. Ao comentar
sobre um cadáver colocado sentado em uma cadeira de plástico, o delegado disse
se tratar de um ‘criminoso’, sem ter investigado.
A chamada ‘guerra’ ao tráfico é a estratégia mais estúpida de
combate a essa modalidade de crime. Morreram vinte e cinco, e daí? Acabou o
tráfico? O Estado vai entrar no Jacarezinho e oferecer educação, saúde, emprego
e lazer para os moradores?
Quando esse massacre for devidamente digerido, outro
acontecerá em qualquer uma das regiões vulneráveis socialmente. Moradores
ficarão presos em casa, crianças sem escola, doentes sem atendimento e uma
noiva maquiada será impedida de sair para casar, como aconteceu realmente.
Ao passo que, quando os criminosos moram em locais
privilegiados, os policias, quando entram para realizar um mandado, assinam
livro de visita na portaria (figura de
linguagem).
A decisão do STF que proibiu a realização de operações
policiais em comunidades do Rio durante a pandemia, pode sim, meio que sem querer
apesar da visita presidencial, como vimos na comemoração de Flávio Bolsonaro, ter
servido de mensagem e incentivo ao núcleo duro do bolsonarismo, que vê seu
líder derreter na CPI da Covid.
Ricardo Mezavila
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