Muitas
pessoas acreditam que não são realizadas porque não conseguiram ainda um
diploma universitário, um emprego estável, um casamento e uma maternidade. Isso
tudo completo é tudo que alguém pode esperar para ser feliz, se sentir realizado,
ser visto como alguém que “deu certo”.
Quando
a gente, quer dizer, pessoas como Machado de Assis, Brecht, Shakespeare,
Guimarães e eu, falamos de literatura, sempre temos o compromisso de um texto
bem escrito, tanto gramaticalmente, quanto claro para quem lê. Nunca escrevemos
para ficarmos esquecidos no fundo da livraria ou para sermos úteis como um
calço para geladeira.
Um
texto é feito de ideias, de palavras e de pontuações. O parágrafo sempre
termina com um ponto. Alguns parágrafos são curtos, apenas duas linhas; outros
são médios e alguns longos. Muitas pessoas são como parágrafos curtos. Sabem o
que querem desde o início e conseguem atingir o objetivo rapidamente sem mesmo
utilizar uma vírgula. São objetivas, mas desbotam com o tempo, como a tinta da
pena que utilizaram.
Não
se consegue escrever um texto rico em ideias e farto em especulações, sem
inserir aspas, interrogações, dois pontos, vírgulas, pontos e vírgulas,
exclamações, chaves e travessões. Viver com intensidade não é parecido com uma
trova, embora a gente tenha a liberdade de transformar um relâmpago simples em
uma trovoada de hidrogênio.
Não,
nós não escrevemos porque temos curso superior, um cargo importante, ou porque
temos um pouco de carisma. Escrevemos porque saímos da estrada, encontramos um
atalho de via dupla entre nós e vocês. Deslizamos em trilhos de pele e fizemos
de cada tecido um desvio, uma história, uma nova possibilidade.
Finalizando,
sejamos um texto repleto de vírgulas, de parágrafos e de capítulos. Temos que
priorizar o enredo e não o título; o índice e nunca o epílogo e, claro, nosso
texto não pode ter a clareza de um poema rimado e óbvio e, muito menos, trazer
algum tipo de mensagem ou moral da história.
Somo
imorais com as palavras, carrascos da sintaxe excessiva e exigente, somos a
escória dos clássicos, mas igualmente amamos o verbo e o tempo; amamos Gorki,
Gil Vicente e todos os poetas medievais. Somos tudo, com ou sem vocês.
Ricardo
Mezavila
Nenhum comentário:
Postar um comentário