A
sociedade, de tempos em tempos, perde e conquista, lembra e esquece, do que foi
importante em determinada época. É assim que a humanidade evolui, ou regride. A
história, às vezes, se parece com a tabela demonstrativa dos índices
econômicos, das cotações das moedas. Sofre variações ora para mais, ou para
menos e, também acontece, fica estabilizada patinando como se corresse em uma
esteira de academia.
As perdas, não as derrotas, passam por um processo de
cadaverização e são enterradas em mausoléus construídos pelas mãos do tempo.
Perdemos muita coisa durante o trajeto, como um caminhão de carga conduzido de
portas abertas, que vai deixando a mercadoria pela estrada.
Pensei assim, depois de ler matéria pela Internet sobre a
"guerra" entre os taxistas e o aplicativo Uber e, na sequencia, os
comentários dos leitores. A maioria dizia-se a favor do aplicativo, a
justificativa era que trazia mais opção de transporte. É verdade que a
concorrência faz com que o serviço melhore, isso é uma lei básica de mercado,
mas o que não podemos esquecer, e os leitores favoráveis não pensaram, é que os
taxistas têm licença para exercerem suas atividades, pagam altas taxas à prefeitura
para prestarem o serviço.
Um leitor mal informado escreveu que o aplicativo não paga
para funcionar porque a Internet é território livre e só utiliza o serviço quem
quer. A Internet não é livre para interferir nas leis, em legalizar o
ilegal, mas tem gente que acha que naquele território tudo é possível. Nessa
lógica até armas e drogas podem ser oferecidas nas redes.
Fiquei com o sentimento de que estamos perdendo a
coletividade, a ideia de classe, a solidariedade. Pensamos no individual, no conceito
errado do conforto a qualquer custo, sem pensar no outro. Por pior que seja o
serviço, cabe ao órgão regulador fiscalizar, autuar e tomar as devidas
providências, como fizeram com os ônibus e vans piratas.
Esse Uber não passa de pirataria travestida de aplicativo mal
intencionado. A prefeitura precisa ser enérgica e coibir o serviço ilegal, ou, legalizá-lo
para que, aí sim, a demanda tenha mais uma opção de transporte.
Ricardo Mezavila é escritor
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