De
pedalada em pedalada o futuro do país vai sofrendo derrota em cima de derrota,
daqui a pouco não vamos mais ter o que oferecer aos “vencedores”. Como
bárbaros, homens que ocupam a casa que representa o povo, comemoraram uma
manobra política esquisita para aprovar a redução da maioridade penal. Sem
entrar no mérito se a redução é necessária, não vejo motivo para comemorar o
fato de que os nossos adolescentes freqüentarão o sistema penitenciário mais
cedo.
Jogar
a favor da redução é admitir que fracassamos e, decididamente, somos uma
sociedade selvagem, sem ternura, capaz de aceitar a punição carcerária como
solução para a deficiência na educação. Fechem as escolas e abram presídios, se
é para fazer, vamos fazer direito; tirem o lápis da mão de uma criança e a
ensine a manusear uma faca e um revólver. Se ela não aprender durante a vida
dura no abandono social, terá oportunidade de aprender quando estiver presa na
companhia de adultos “formados”.
Tanto
a cegueira da sociedade, quanto a experiência de um criminoso, são professores
para aqueles que nascem para sobreviver aos obstáculos e intempéries da vida.
Menos de 1% dos crimes são praticados por menores de dezoito anos, e são eles
que engrossam as estatísticas das vítimas com 36%, mas acostumamos a olhar as
vítimas como números inanimados.
Temos
a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente, mas nenhum
desses livros é consultado quando querem dar justificativas à sociedade.
Ninguém se debruça sobre as leis, por isso exigem atitudes arbitrárias e
simplistas para estancar o sangue do ferimento que eles próprios fizeram.
Tanto
os jovens de classe média incendiaram o índio em Brasília, porque o confundiram
com um mendigo; como os playboys que espancaram a empregada doméstica no Rio,
porque a confundiram com uma prostituta, tiveram penas brandas. Como se
mendigos e prostitutas não devessem estar amparados pelas leis, mas os
agressores eram brancos e influentes, se fossem negros e pobres estariam nos
porões dos presídios sendo alimentados e instruídos para que se tornassem
feras.
A
celebração funesta no Congresso é parecida com um certo tipo de funeral na
Irlanda, que enterra o morto uma semana depois de sua morte. Esse evento é
conhecido como “Wake” (despertar), as pessoas celebram a vida do
falecido com música, comida e bebida. O caixão com o corpo, fica na casa da
família e está presente em todas as comemorações.
Não
dá para conceber que homens formados e com mandato chancelado pelo voto, sintam
prazer, como pedófilos, em submeter os desassistidos a um regime de reclusão. Os
congressistas brasileiros que comemoraram a vitória manipulada da redução da
maioridade, com direito a cantar aquela musiquinha insossa, “eu sou
brasileiro/com muito orgulho”, são as carpideiras pervertidas e alegres do
funeral, que tem a frase na lápide: “Aqui jaz a esperança”.
Ricardo
Mezavila
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