Em
qualquer enredo feliz a constatação do aumento da expectativa de vida, se
encaixaria perfeitamente em qualquer capítulo. Seria a celebração da vida poder
aumentar a relação com o tempo por mais alguns anos. Seria assim, mas parece
que nem isso é capaz de fugir das teias do sistema da aranha de perna longa,
que escreve nossa história segurando uma esferográfica envenenada em cada perna.
Na
sinopse está escrito que a expectativa de vida do brasileiro aumentou, porque a
renda subiu e o acesso à saúde melhorou. A gente aqui reclamando que tudo está
ruim, mas alguém escreveu que poderia estar pior. Aqui não temos conflitos
militares, mas a criminalidade consegue superar as baixas de uma guerra; a vacinação
em massa parece desnecessária, apesar da inexistência de saneamento básico em
comunidades esquecidas; a boa educação estimula o prazer, afaga a utopia, que é
uma ótima companheira para se sentar ao lado em uma viagem, mas o pesadelo é
quem está com as mãos no volante e o pé no acelerador.
A
notícia do aumento do índice é boa, mas traz impactos para a economia. Não sei
qual o efeito negativo pode advir da conquista à vida, do adiamento da morte. Contudo,
parece que o bolso é um dos órgãos vitais do organismo humano. Existe uma tal de
Tábua da Mortalidade, calculada pelo IBGE, que serve de parâmetro para o INSS
estimar o fator previdenciário, que tem por objetivo evitar aposentadorias
precoces.
Considerando
o tempo de contribuição, a idade do trabalhador e a expectativa de sobrevida, é
feito o cálculo previdenciário. Sobrevida quer dizer prolongamento da vida
depois de um limite, no caso a aposentadoria. No livro da aranha quer dizer
prolongamento da existência, para além da morte.
Ainda,
segundo o IBGE, o brasileiro conseguiu três meses e vinte e cinco dias a mais
de expectativa de vida, entre 2012 e 2013. No homem passou de 71 anos para 71,3
anos; nas mulheres de 78,3 para 78,6 anos.
Na
contramão e bêbado, o congresso está aprovando a redução da maioridade penal de
18 para 16 anos. Será que em seus cálculos o IBGE não relaciona crianças e
jovens? Por que aqueles que votam e pregam a redução da maioridade não
consultam as estatísticas? Se consultassem saberiam que os adolescentes,
menores de 18 anos cometem menos de 1% dos homicídios e são 36% das vítimas. Se
a expectativa de vida aumentou, então seria coerente que a maioridade
acompanhasse esse ritmo.
Enfim,
quem escreve a história não somos nós, e sim a aranha. Há uma tese, a ciência
ainda não tem resposta, que diz que a aranha ao morrer relaxa os músculos, por
isso suas pernas encolhem. Então, vamos esperar que as pernas da aranha se
encolham e que soltem as esferográficas, para que o veneno da tinta seja o
antídoto contra tudo o que escreveram sobre a nossa incapacidade de encontrar a
felicidade. E, vida longa aos anfíbios predadores!
Ricardo
Mezavila
Nenhum comentário:
Postar um comentário