O
natal, quando eu era criança “lá em Barbacena”, era uma data religiosa onde as
famílias se reuniam para a ceia em homenagem ao nascimento do menino-deus.
Sapatinho na janela, vizinho fantasiado de bom velhinho, presentes ao pé da
árvore, tio bêbado e crianças correndo pela casa esperando a hora de abrir os
presentes. Hoje ainda vemos tudo isso, só que com requintes ainda maiores de
propaganda e massificação.
Um
consumidor estava procurando um presente para o seu filho, quando viu o preço
quase caiu: “mil reais por um lego?” Disse atraindo a atenção dos que estavam à
periferia. Realmente está absurdamente caro esse troço aí, tive que concordar.
Lembro que esse brinquedo existe há muito tempo, mas não dá para pagar mais de
um salário em umas peças de plástico feitas para encaixar formando várias
combinações.
Partindo
para as reflexões natalinas caio, inevitavelmente, nas ausências. Uma cadeira
vazia, uma mesa com menos pratos, o Jingle Bell triste que não interessa ao espírito
publicitário da data. Cada ano ficamos mais distantes, no calendário, das
festas e dos sorrisos iluminados de quem nos presenteou pela primeira vez com
um forte apache, uma boneca e, não menos
marcante, uma conversa convincente para explicar que este ano Papai Noel está
pobre, mas que no ano que vem ele promete uma bicicleta novinha.
O
que nunca deixou de existir, pelo menos vejo assim, é o sentimento do perdão
que paira no ar, a vontade represada de olhar no fundo dos olhos do outro e
pedir desculpas, reconhecendo o tropeço. O período das festas deve servir de
reflexão e de ação, de falar e agir, de tentar novamente, de ter consciência de
que respirar, andar, ser independente e pró-ativo são atos simples que nos foi
permitido, e de como é complexo e difícil viver sem essa simplicidade vital.
Sem
entrar em fundamentos e crenças, penso que o natal ainda é uma reunião com a
família completa, com pessoas de corpo e alma e outras só de alma, mas que
estão presentes fora do foco da visão física, que estão sentados ao nosso lado
desejando que o mundo a que pertenceram, e que ainda pertencemos, seja um lugar
de paz e harmonia, que olhemos a nossa volta a quem perdoar e a quem pedir
perdão, pois assim a mágoa aflita vai embora e o coração pacífico agradece.
Ricardo
Mezavila.
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