Dizem
que existe um canal entre o além e a terra onde os artistas são incomodados, o
tempo todo, para dar um espaço a quem está do lado de lá. Eu, poeta, sou um
canal voluntário e solidário para que esse intercâmbio se desenvolva. Mas, não
entendo muito, parece que o lado de lá também tem as suas teorias em
desenvolvimento. Se depender da continuidade literária dos que fizeram bonito,
não há obstáculo de minha parte, inclusive troco constantes idéias com alguns,
principalmente com Ismael Silva.
O
inconveniente é que, por vezes, esse encontro inicia em um bar, eles chegam
ali, ficam rondando, pegando bebida no chão, e decidem me acompanhar quando vou
para casa. Quando um poeta vai para casa depois de sair de um botequim, vai
muito bem acompanhado pelos boêmios e proscritos que defende. As conseqüências disso
nem sempre são como os poemas concretos, porque tem muito mais concreto do que
poema quando o etéreo sobe as escadas e atrapalha quando o poeta tenta abrir a
porta.
Tirando
o exagero, é mais ou menos isso que acontece, ou eu acho que aconteça, com quem
tem uma relação próxima com a eternidade por conta da arte. Isso explica de eu
comprar um quadro encontrado em monte de lixo por um “burro-sem-rabo, um
guarda-sol atravessado por um rapaz, que “flanela” nas ruas do bairro, e
milhares de horas discutindo sobre política com quem discutia somente futebol.
A discordância
é o tom de quem decide evoluir durante uma conversa paralela, uma frase solta
que deixa dúvidas, um deslize no piso molhado de quem deu um passo e não tinha
base sóbria na outra perna.
A irreverência
de quem assume um diálogo com quem está vestido de branco e com legado, é que na
sua cama podem estar um poeta russo, um sambista do Estácio e outro da
Mangueira, um poeta da Vila, um dramaturgo alemão e até um ex-beatle.
Ricardo
Mezavila.
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