Se
quem vive de passado é museu, então podem me chamar de Louvre porque, além de
ser famoso, vou estar acompanhado da Mona Lisa, da Vitória de Samotrácia e da
Vênus de Milo. Sem falar que meu endereço passa a ser entre o rio Sena e o Champs-Élysées.
Sendo um museu eu vou trocar ideias com Rembrandt, Michelangelo,Goya e Leonardo
da Vinci, meus amigos das artes.
Eu
vivo do passado, então eu posso contar algumas conversas que tive com
Aristóteles que, assim como eu, também foi aluno de Platão, antes de fundar o
Liceu, em Atenas. Estudamos lógica, física, ótica, astronomia, biologia,
psicologia, poesia, retórica, mas quando me chamou para estudar
homossexualismo, eu fugi da escola e ele, sendo mais aplicado, deu seqüência e
chegou a ser professor de Alexandre, o
Grande.
Sou
do passado e fico triste quando passo de trem pela Estação Mangueira e percebo
que ela está deserta, a modernidade do velho Mário Filho impôs a criação de uma
plataforma nova no Maracanã, que
inviabiliza a antiga Estação Primeira. Então eu lembro de quando descia ali
abraçado com Cartola, ambos com a cabeça cheia de cachaça, e encontrávamos
Ismael Silva, vindo do Estácio, com seu terno branco na porta do barraco no
buraco quente, cantando “Se você jurar”.
O
tempo é uma mola maluca que não para de pular com a gente em cima, tentando se
equilibrar. Os olhos enxergam sempre o presente e o futuro é especulação,
administrado, mas é especulação. Por isso o passado é o que realmente existe, é
uma agenda anotada até a última página, é uma peça chinesa de dez mil anos que
ainda está intacta sobre a mesa.
Por
isso, conclamo meus amigos do passado a fazer um brinde, não com uma taça da
Setella Artois que é muito modinha, nem com o cálice da última ceia porque é
blasfêmia, mas como vivo do passado, posso voltar ao dia em que Ben Stiller
gravou “Night at the Museum” e aproveito suas atrapalhadas para trazer
emprestado os copos de Baco, tem mais a ver com a gente. Santé!
Ricardo
Mezavila.
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