Havia no sertão brasileiro, um
andarilho que atendia pelo nome de seu “Soca”, na verdade seu nome era
Sócrates, mas o sertanejo não conseguia falar isso de jeito nenhum. Era seu
Soca e pronto. Formado em arquitetura, Sócrates abandou família e trabalho para
se dedicar a “aprender como se faz a
natureza”, como ele dizia. Queria conhecer a arquitetura do homem simples,
da vida difícil e da luta daquela brava gente.
Ele não tinha moradia fixa, vivia
de lar em lar, quando havia convite, ou ficava no tempo estudando o céu. Em qualquer lugar em que estivesse, tudo ao
seu redor, todo o acontecimento, era motivo para um aprendizado novo. Ouvia o
som da rotina das casas, as conversas das famílias, seus problemas e
dificuldades, mas também participava das alegrias e dos momentos de
descontração.
Seu “Soca” compreendia a
realidade daquelas pessoas que, mesmo com privações básicas, conseguiam
encontrar a felicidade. Certa vez ouviu de um roceiro: - Eu sinto que alguma coisa boa vai acontecer, um sentimento bom, de
esperança, uma alegria por vir, certo como a tempestade quando o vento traz as
nuvens. E na sua voz tinha muito mais do que fé ou otimismo.
Sócrates sacrificou seu
relacionamento social para dedicar-se ao que ele idealizava como “meus experimentos de vida”. Encontrou a
essência da inteligência nas pessoas sem escolaridade; o vigor da saúde onde a
desnutrição é epidemia; a pureza da paz onde se vive em guerra contra a fome; a
mão da solidariedade convivendo com a carência material.
O arquiteto aprendeu como se faz
a natureza observando o que o rodeia, valorizando o simples. Aprendeu que nada
é menor ou maior, tudo se equivale em algum lugar ou fase da vida. Tudo tem
importância igual e não há conhecimento maior do que sentir isso plenamente.
Uma vez, conversando sobre o
tempo em que andava socializando e aprendendo a viver, ouviu de uma amiga, com
problemas financeiro e matrimonial, que ela não sabia o que fazer para
solucionar o insolúvel. Seu Soca disse: Se eu tivesse ouvido isso há alguns
anos, não saberia entender como voce ainda está viva. Mas hoje posso te falar
que: Eu sinto que alguma coisa boa vai
acontecer, um sentimento bom, de esperança, uma alegria por vir, certo como a
tempestade quando o vento traz as nuvens.
Ricardo Mezavila
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