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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Fiel da balança


by internet




Sei lá porque, talvez pelo clima do carnaval na companhia da família, comentei hoje e escrevo aqui reminiscências da infância. Meu pai e minha irmã primogênita torciam pela Mangueira e minha mãe e minha irmã caçula pelo Salgueiro. Eu sou o filho do meio, o filho sanduíche, aquele que fica entre o desbravador e o queridinho. Então, com o empate pela preferência entre as duas escolas de samba, cabia a mim o voto de minerva. Talvez para não desagradar uma das partes, ou para contrariar mesmo, ou subverter pelo simples prazer, ou por total anarquismo, eu comecei a torcer pela escola de samba São Carlos, atual Estácio.

Ficava alone na torcida pela escola de pouco investimento e reduzidas chances de ganhar um carnaval. O mesmo aconteceu quando do II Festival de Música Brasileira. O Brasil estava dividido entre A Banda de Chico Buarque, interpretada pela Nara Leão e Disparada de Geraldo Vandré e Téo de Barros, interpretada pelo Jair Rodrigues. Apesar de uma tendência para torcer por Disparara, eu negava as duas e dizia que preferia Ensaio Geral de Gilberto Gil, interpretada pela Elis Regina.

E assim fui construindo, intuitivamente, interesse pelos menos festejados, mas nem por isso menos importante. Quando você sai do senso comum para lançar olhos além do que seu olho vê, enxerga mais longe e mais alto do que as lentes permitem que você perceba. A exclusão social é o primeiro cenário perceptível.

O garoto que um dia eu fui ainda se incomoda com pessoas dormindo nas ruas, crianças evadidas das escolas, doentes sem leitos nos hospitais públicos, desvalorização da mão-de-obra e pelo estado de exceção permanente. O fiel da balança, aquele que decide os rumos do cumprimento dos nossos direitos somos nós mesmos. É essencial que olhemos o que nos rodeia, mas também o que não aparece.



Ricardo Mezavila

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