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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Moscas e Farinha





Fico incomodado com a contemplação, de alguns setores da sociedade, em relação a pobreza  material e o que dela é gerado. Alguns torcem o nariz, fecham os olhos, fingem que não ouvem. Na verdade os seres “invisíveis” só ganham corpo nas “campanhas”, nos comícios, nos programas de televisão, ou quando são muitos e começam a fazer barulho.

Tenho uma lembrança emblemática de quando, viajando sentado no banco, do lado da janela de um ônibus, esperava que o sinal abrisse. Do lado que eu estava, quase encostado ao meio-fio, tinham algumas casas construídas com madeiras e zinco, uma favela. Foi quando a porta de uma das casas começou a abrir lentamente, todos olharam para a porta na espera do que sairia de lá. E, ante ao espanto de todos, uma criança de no máximo dois anos aparece e olha fixamente para todos nós criando constrangimento em alguns, consternação e piedade em outros.

O ônibus seguiu e fiquei a imaginar o que cada um daqueles passageiros estava pensando, qual a lição que eles tiraram, que atitude iriam tomar. Será que doariam dinheiro para as campanhas? O que cada um deve fazer, isso cabe a consciência individual, mas o que a sociedade deve fazer, é da alçada do coletivo, dos educadores. É obrigação o engajamento dos representantes públicos.

Esse fato me fez lembrar um antigo texto em que faço analogia entre a pobreza e um jacaré criado no bueiro. O animal cresce no ambiente subterrâneo e ali encontra as condições de sobrevida. Quando um funcionário da prefeitura desce até o local para fazer manutenção em uma rede de abastecimento, depara-se com aquela criatura horrenda e foge. O jacaré percebe que pode sair daquele ambiente pelo lugar onde fugiu o funcionário da prefeitura, então ele sai e choca os habitantes com a sua aparência. O governo, sem ter outra saída, diz que vai tomar providencias futuras e que, aquele jacaré adulto não tinham como recuperar, infelizmente.

O jacaré volta para o bueiro e lá, acompanhado de sua família, que continuava invisível porque não foram descobertos pela sociedade, portanto não incomodavam, afasta as moscas da mesa e come a farinha.

Ricardo Mezavila

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