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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Cordialidade Brasileira





O historiador e pai de Chico Buarque, Sergio Burque de Hollanda, criou a frase: “O brasileiro é um povo cordial”. Esta tese fez com que o ilustre mestre se arrependesse profundamente de tê-la lançada. Os patrulheiros de plantão reagiram e interpretaram-na como uma mensagem das classes dominantes para justificar a injustiça social, além de classificar “cordial” como sinônimo de ignorante e primitivo. Sérgio passou o resto da vida explicando que a origem etimológica de “cordial” é “relativo ao coração”, e foi nesse contexto que ele escreveu a famosa frase.

Pois bem, deixando o equívoco lingüístico de lado, hoje na estação de trem de Oswaldo Cruz administrada pela Supervia, no Rio de Janeiro, houve muita confusão por conta de problemas técnicos que já são recorrentes nas manhãs ensolaradas do subúrbio carioca. Houve pânico e a polícia lançou spray de pimenta para tentar conter os mais exaltados. A impressão que tenho é que estão fazendo algum tipo de experiência com a humanidade e, viajar de trem no Rio, é teste de tolerância, paciência e de...cordialidade. Até onde o ser humano pode suportar os descasos nos setores básicos da sua sobrevivência, sobreviver com um salário injusto e ainda apanhar da polícia por culpa da incompetência de uma empresa privada sob os auspícios do governo estadual (?).

Essa tal “cordialidade” brasileira tem sugerido, todos esses anos, que o homem proletário deve se contentar com aquilo que lhe dão, sem questionar. É resignar e ponto! As cenas de Osvaldo Cruz mostram que, se falta inteligência ao homem, sobra disposição para o confronto físico. O que falta é organização e estratégia, mas isso soa anacrônico nos tempos atuais, beira o ridículo. Se a nossa independência tivesse sido conseguida com luta popular, talvez não seríamos os cordeiros que somos, mas a liberdade foi declarada em um jogo amistoso entre Portugal x Portugal, e não em um Brasil x Argentina.

Ricardo Mezavila

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