Quando tinha vinte e poucos anos fui convidado, por um colega, a ir a uma reunião motivacional de uma empresa do ramo de jóias. O colega participava das reuniões e já era quase vendedor júnior. Fiquei chocado com o que vi, naquele lugar não cabia um comunista. O deus grana era idolatrado sem cerimônias. As pessoas ali estavam em verdadeiro estado hipnótico, meu colega em transe babava na gola da camisa quando o palestrante, sem escrúpulo, dizia que quanto mais a inflação subia, mais as jóias valorizavam. Claro que levantei e saí daquele templo dourado e frio.
Lembrando desse fato percebo que nunca tive ambição material. Conforto sim, mais valia não. Sou o contraponto da política empreendedora dos meios de produção. Sempre fui e ainda sou proletário. Para se ter sucesso tem que ter dedicação! Esse tipo de colocação nunca encontrou terreno fértil em mim. O que é o sucesso? Em árabe quer dizer “mulher forte”, segundo consulta que fiz no google.
Para realizar uma palestra os organizadores fazem uma reunião de briefing , estudam as metodologias, dinâmicas de grupo para facilitar o desenvolvimento prático dos temas desenvolvidos como motivação, trabalho em equipe, liderança, criatividade e outros. Feito isso falam do “efeito borboleta”; “a mágica da motivação”; “a importância das pequenas atitudes”; “conquistando poder pessoal”, e tantos outros temas que motivam um determinado grupo de trabalho.
Meu colega se continuou no ramo, hoje deve ser, no mínimo, vendedor sênior e deve estar muito rico. Eu continuo pobre porque não nasci para adorar deuses capitalistas e a poesia não troca suas sandálias por sapatos engraxados. Não consigo passar por uma porta sem pensar que posso estar cozinhando feijão e de repente estar em outra dimensão. Viver é a motivação maior.
O poder da palavra quando necessário, tem que ser usado para tranqüilizar quem precisa de apoio, como aquele que espera o retorno de alguém que não vai mais voltar.
Ricardo Mezavila
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