Dois anos antes de meu ingresso na escola primária o presidente João Goulart assinava em praça pública, no Rio de Janeiro, três decretos, um de encampação das refinarias de petróleo privadas, outro de reforma agrária à beira de rodovias, ferrovias, rios navegáveis e açudes e um decreto tabelando aluguéis. Esses decretos de treze de março de mil novecentos e sessenta e quatro foram usados como pretexto pelos conservadores para a sua deposição.
Um ano depois de eu ter terminado o ensino médio, novas regras são impostas à sociedade brasileira. Novamente é aumentado o arrocho contras as liberdades individuais e coletivas da população, alguns setores produtivos são postos sob a “Lei de Segurança Nacional”, sob a razão de serem de importância estratégica para o país. São proibidas as greves nos setores petrolíferos, energético e de telecomunicações.
Assim crescemos, sob o obscurantismo, a não instrução, em completa ignorância política. Do fim do governo Goulart até o último suspiro da ditadura militar com o general Figueiredo, uma geração de estudantes teve sonegada informações que colaborariam para a sua formação crítica. Não deixaram legado e muito menos saudades.
Hoje acompanho os movimentos em Trípoli, o clima tenso com explosões, os rebelados tomando lugares estratégicos, focos de resistência seguram o regime próximo de afundar. Notícias sobre a captura do filho do presidente são desmentidas quando este faz aparição em público, sorridente e confiante como se estivesse voltando do Habib’s depois de comer um kibe. O ditador, o coronel Kadafi está desaparecido. O presidente americano Obama confirmou que apoiará o novo governo líbio, se favorável à política internacional dos Estados Unidos.
Fico a imaginar se a ditadura militar brasileira durasse mais algumas décadas, qual seria a nossa atitude. Será que nos rebelaríamos contra o regime e deportaríamos os ditadores? Marcaríamos encontros e manifestações anti-militar pela internet? Eu criaria no Orkut as comunidades “Pelo fim das leis de estado de exceção” e “ Liberdade de expressão, já!” . Tendo como principal objetivo dos protestos, derrubar o regime militar.
Sem revanchismo, mas caçar os gorilas, como fizeram com Saddam, seria uma aventura inesquecível. O Brasil teve no período de mil novecentos e sessenta e quatro a oitenta e cinco, além do período da junta militar, de agosto a outubro de sessenta e nove, cinco presidentes ditadores. Isso me faz criar um “chiste”: Um grupo de estudantes e jornalistas procura pelos ditadores, escondidos na caserna em Brasília. Ao chegar no portão encontram um menino com uniforme da escola pública que entrega: “estão AÍ 5”.
Ricardo Mezavila
A foto é de 1998, quando a Casa do Menor Trabalhador foi em passeata da Central até o Juizado da Infância. Fomos muito bem recebidos pelo Dr. Siro Darlan (tem que ser registrado)
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