Pegando onda nas apresentações de grandes artistas do cenário pop musical ao Brasil nos últimos anos, vou fazer um cut back, (manobra em que o surfista volta na direção contrária da onda e depois retorna na direção normal.) e vou fazer um flash sobre o primeiro grande evento musical realizado no Brasil em mil novecentos e oitenta e cinco : o Rock in Rio.
Lamento não ter guardado o ingresso que adquiri para o último dia do evento em vinte de janeiro. É preciso manter um acervo de objetos pessoais importantes para mostrar aos filhos e netos.
Foram dez dias de música e quase dez de chuva. Não lembro se foi pelo mau tempo, mas os organizadores liberavam os portões quando iniciava a apresentação dos cantores estrangeiros. As bandas e cantores nacionais abriam os dias do festival e as internacionais encerravam. Sabendo disso, fui para conferir se era autêntica a informação que tive sobre a “canja” que os organizadores estavam dando. Chegando à cidade do rock fiquei surpreso em perceber que os portões estavam abertos e lá dentro, sob forte chuva, um inglês rouco pulando muito no palco cantava: “I am sailing, stormy waters,to be near you, to be free” fui entrando meio desconfiado e de repente estava frente ao palco onde Rod Stewart fazia um show memorável. Dia seguinte fui para confirmar se aquilo havia acontecido mesmo e assisti a um depressivo James Taylor cantando“ I've seen fire and I've seen rain, I've seen sunny days that I thought would never end “ o cantor lutava, na época, contra as drogas. Antes George Benson fez todo mundo dançar com On Broadway. Mil novecentos e oitenta e cinco era o “Ano Mundial da Juventude” proclamado pela ONU. No cinema, a Rosa Púrpura do Cairo;, De volta para o futuro; A dama de vermelho; O exterminador do futuro faziam grande sucesso. A ditadura militar no Brasil estava chegando ao fim, o país respirava democracia e tinha esperanças no governo do então presidente eleito Tancredo Neves, que tomaria posse em março, o que não aconteceu devido à sua doença e posterior falecimento em vinte e um de abril.
Depois dos dois dias de “gratuidade”, só pude retornar à cidade do rock no penúltimo dia e assisti aos incríveis shows das bandas Whitesnake, Scorpions e AC/DC , além do totalmente absurdo e bizarro Ozzy Osbourne.
Talvez por ter ido aos shows sem precisar do ingresso para assisti-los, eu tenha minimizado a importância de tê-lo comprado e, talvez, não lembro, tenha jogado o meu fora quando fui ao último dia do festival. É claro que eu fui para ver o “Yes”. O domingo estava ensolarado, o clima era de festa na cidade do rock. Erasmo Carlos, Barão Vermelho, Gilberto Gil e Blitz encerraram a participação dos brasileiros. Depois de alguns minutos subiu ao palco uma excêntrica figura: Nina Hagen, uma alemã, barulhenta e muito divertida que colocou todo mundo pra dançar. Em seguida tive a grata surpresa de assistir ao show new wave da ótima banda B-52’s. Mas o fim do festival estava reservado para os roqueiros, como eu, que na década de setenta, teve o privilegio de ter como fundo musical o rock progressivo do Yes.
Vinte e seis anos se passaram até o recente show de Paul McCartney. Fiquei mais de duas horas na fila para entrar, mas desta vez fui cauteloso e tive o cuidado de guardar o ingresso.
* Por um mundo melhor foi o slogan criado para o rock in rio
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