Por
experiência pessoal, a melhor companhia que alguém pode ter, seja amizade,
namoro, casamento, ou só como vizinho, é a pessoa com tendência política de
esquerda. Ela é mais descolada, compreensiva e animada. A maioria, com formação
acadêmica, é na área da educação e meio-ambiente. No geral leram um pouco sobre
as teorias de Marx, Engels e Gramsci; assistiram pelo menos uma peça de
Dostoievski e de Brecht, recitam com frequência alguma frase de Maiakovski e
Gorki.
Românticos,
ouvem música cubana e bossa nova, amam caminhar de mãos dadas, sentem-se mais
seguros com a força do coletivo; beijar uma pessoa de esquerda é uma coisa
leve, sem pressa e, não importa a idade, é um beijo sempre jovem, uma mistura
de maturidade com ternura.
Na
hora de pagar a conta, se você estiver sem dinheiro não tem problema, a
solidariedade é a base da relação; mas se for ela a “dura”, não hesite em
passar o cartão, seu gesto será recompensado com um obrigado carregado de
estrelas e de um poema escrito no guardanapo.
Viver
na companhia de uma pessoa de esquerda é algo parecido como entrar dentro de um
livro de história, de biologia ou de literatura. O entusiasmo está presente em
tudo, na média com pão e manteiga, na cerveja, na batata frita e na pipoca.
Qualquer
situação, por mais inusitada que pareça, pode ser definida com um verso dito em
algum momento no Araguaia, em Havana ou
em Moscou. Sem medo, entram em qualquer lugar, porque conhecem a geografia
social das comunidades, entendem que subsistir é preservar a identidade, é
manter a consciência da união.
São
resistentes, caminham quilômetros mesmo na chuva; encontram soluções adequadas
para cada situação, com versatilidade e muita flexibilidade, sem ter que
consultar o manual do guerrilheiro urbano, pois é tudo no improviso e no bom
humor. Na falta do pão vão se contentar com o trigo que, se não pode se
transformar em pão, pode servir um mingau caprichado.
Converse
um pouco mais com uma pessoa de esquerda, ela nunca incita o ódio e o preconceito,
não humilha, não desdenha do seu credo, não é moralista e, óbvio, nunca será um
reacionário. Sem falar nos livros que vai te presentear, aquele com a "sua
cara" que você não pode deixar de ler.
Preserve
essa amizade como quem cuida de um jardim, simplesmente porque gosta de assistir borboletas voando em
volta das flores. A vida é leve e, de repente, fica tão mais leve que não pode
mais ficar presa à gravidade, ficando invisível aos olhos. Aproveite a companhia
e ande pelas ruas com um sorriso honesto e, se acontecer de você torcer o
tornozelo não se preocupe, porque carregar um companheiro nos braços, ferido ou
bêbado, é medalha para essa gente feliz.
Ricardo Mezavila
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