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domingo, 3 de maio de 2015

A decisão de 68 e a bandeira que quase não sai





A decisão do campeonato carioca que vai acontecer daqui a algumas horas, entre o Botafogo e o Vasco da Gama, no estádio Mário Filho – O Maracanã - como dizia o locutor Waldir Amaral, tem um componente histórico em meu currículo de torcedor do clube da Estrela Solitária.

O ano era 1968, época em que o país tremia com as arbitrariedades políticas, eu não tenho na memória outro jogo antes deste, talvez por ter sido um jogo decisivo. De um lado o Botafogo do técnico Zagalo com: Cao, Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gérson; Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César. A equipe do Vasco eu não lembro.

Durante as horas que antecederam a partida foi se instalando um clima eufórico na minha casa. Meu pai, que era um torcedor contido e minha mãe, que nem torcia por time nenhum, conversavam sobre o jogo e eu e minhas irmãs fomos nos envolvendo, a ponto de, em um ato de uma quase necessidade de sobrevivência à guerra, minha mãe “inventar” de costurar uma bandeira branca e preta.

Faltavam poucas horas para o início do jogo, embora eu sempre tenha convivido com uma máquina de costura ELGIN encostada em um dos quartos, não era comum minha mãe sentar e costurar. Mas lá estava ela com a garra das costureiras do barracão do Salgueiro, lá estava ela envolvida com agulhas e dedais, retalhos e linhas, costurando a bandeira que seria hasteada, como a vitória dos expedicionários brasileiros em Monte Castelo e Montese.

Faltando alguns minutos para o jogo começar e com o som do rádio saindo do quarto e invadindo toda a casa; com minha mãe acelerando o pedal da máquina como quem precisa pegar velocidade para saltar em voo livre; com meu pai duvidando de que a bandeira estaria pronta antes do jogo, o que não traria bons fluídos para o botafoguense supersticioso; com a nossa tensão crescendo diante de um desastre anunciado, finalmente, minutos antes do juiz apitar, minha mãe gritou: Está pronta! A bandeira está pronta!

Depois do jogo corremos com a bandeira pela calçada e ela virou um símbolo que, por anos, ficou em cima do meu guarda-roupa, simbolicamente, assim como a bandeira dos Estados Unidos na lua, como lembrança daqueles 4x0.

Ricardo Mezavila

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