A
decisão do campeonato carioca que vai acontecer daqui a algumas horas, entre o
Botafogo e o Vasco da Gama, no estádio Mário Filho – O Maracanã - como dizia o
locutor Waldir Amaral, tem um componente histórico em meu currículo de torcedor
do clube da Estrela Solitária.
O
ano era 1968, época em que o país tremia com as arbitrariedades políticas, eu
não tenho na memória outro jogo antes deste, talvez por ter sido um jogo
decisivo. De um lado o Botafogo do técnico Zagalo com: Cao, Moreira, Zé Carlos,
Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gérson; Rogério, Roberto, Jairzinho e
Paulo César. A equipe do Vasco eu não lembro.
Durante
as horas que antecederam a partida foi se instalando um clima eufórico na minha
casa. Meu pai, que era um torcedor contido e minha mãe, que nem torcia por time
nenhum, conversavam sobre o jogo e eu e minhas irmãs fomos nos envolvendo, a
ponto de, em um ato de uma quase necessidade de sobrevivência à guerra, minha
mãe “inventar” de costurar uma bandeira branca e preta.
Faltavam
poucas horas para o início do jogo, embora eu sempre tenha convivido com uma
máquina de costura ELGIN encostada em um dos quartos, não era comum minha mãe
sentar e costurar. Mas lá estava ela com a garra das costureiras do barracão do
Salgueiro, lá estava ela envolvida com agulhas e dedais, retalhos e linhas,
costurando a bandeira que seria hasteada, como a vitória dos expedicionários
brasileiros em Monte Castelo e Montese.
Faltando
alguns minutos para o jogo começar e com o som do rádio saindo do quarto e
invadindo toda a casa; com minha mãe acelerando o pedal da máquina como quem
precisa pegar velocidade para saltar em voo livre; com meu pai duvidando de que
a bandeira estaria pronta antes do jogo, o que não traria bons fluídos para o
botafoguense supersticioso; com a nossa tensão crescendo diante de um desastre
anunciado, finalmente, minutos antes do juiz apitar, minha mãe gritou: Está
pronta! A bandeira está pronta!
Depois
do jogo corremos com a bandeira pela calçada e ela virou um símbolo que, por
anos, ficou em cima do meu guarda-roupa, simbolicamente, assim como a bandeira
dos Estados Unidos na lua, como lembrança daqueles 4x0.
Ricardo
Mezavila
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