Diz
o senso comum que não se discute futebol, política e religião. Na contra-mão do
senso , se alguém me encontrar discutindo em voz alta, principalmente na rua,
pode ter a certeza de que estou quebrando essa regra comum. Como disse Nelson
Rodrigues: “Das coisas menos importantes, o futebol é a mais importante”. Ao
contrário do que muita gente pode pensar, a rua é o melhor palanque para a gente expor o que pensa, mesmo correndo o
risco de ser ignorado e ficar falando sozinho.
Em
tempo de pouca conversa e muito teclado e touch screen , começo a sentir falta
das discussões públicas, do calor de um debate informal, da palavra cuspida em
cima de uma mesa úmida de cerveja. Também deixo minha digital em teclas frias
que procuram por letras fixas, mas prefiro as palavras com o som de voz, que
provocam expressões variadas e que, dependendo da intensidade, é como um golpe
certeiro dentro de um octógono ufc.
A
minha geração cresceu ouvindo os pais, tios e vizinhos conversando; cresceu
brincando na rua e inventando brincadeiras novas; cresceu em uma época em que
palavras eram censuradas, mas que, nem por isso, os mais velhos deixaram de
pronunciá-las. Crescemos gostando de conversar, de ler e escrever, talvez a
proibição tenha fomentado a curiosidade e, como tudo o que é proibido, desperta
o interesse.
Na
atualidade o politicamente correto invadiu as salas frias das mídias sociais,
tem gente amando mais o seu bichinho do que alguém da sua espécie, talvez
porque o animalzinho não seja um contestador e aceite a omissão do seu dono em
relação aos problemas da sociedade. Outra coisa, tem gente que só opina depois
de consultar o Google, quer dizer, pesquisar é melhor que pensar.
Hoje
ando um pouco calado, falando menos que
antes. A gente precisa viver a época atual que é menos moleque do que fomos,
menos criativos e mais individualistas. Não consigo imaginar o show “A noite do
amor, do sorriso e da flor” ficar famoso só porque teve milhões de acessos no
youtube e curtidas no facebook. Os universitários que pararam o trânsito em
frente à faculdade de arquitetura, e nem tinham tantos carros como hoje, e lotaram o anfiteatro, não precisaram marcar
para dar um “rolê”, era conversando pessoalmente que a gente se entendia.
O
preço que pagamos pela tecnologia é esse vazio, essa falsa amizade que
construímos por trás dos teclados. Eu mesmo tenho uns quinhentos “amigos”
virtuais que, se sentarem ao meu lado, não sei quem são.Tudo bem precisamos
“evoluir”, aceitar as respostas e os olhares escondidos dentro de uma polêmica, senão periga ficarmos
sentados à beira do caminho com uma caneta, um caderno e sem leitores e o pior,
sem ter com quem discutir.
Ricardo
Mezavila
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