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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Vamos repetir tudo como foi





Falar e escrever sobre o tempo estão entre as coisas que mais gosto de fazer. O tempo é mistério e ao mesmo tempo luz, é finito e infinito, bom e mau, uma coisa e outra coisa. O tempo é o que mais me fascina, porque na sua invisibilidade torna-se visível nas pequenas mudanças, nas transformações vindas com a idade. O tempo não para e ninguém está imóvel, a terra gira e tudo se movimenta por dentro, em cima, do lado e por baixo, ninguém e nada estão por fora.

Vim pensando assim ontem, no ônibus, quando um grupo de meninos e meninas entraram vindos da escola. Sempre que viajo de ônibus, metrô, ou trem, fico em pé. Nunca sento, porque sei que vai entrar alguém e eu vou ceder o lugar, então já me antecipo e fico de pé. Os estudantes faziam aquela saudável “algazarra”, própria das crianças. No banco de trás havia uma moça com um bebê no colo e ao seu lado um homem lendo jornal. Pensei como as notícias do jornal poderiam interferir na vida daquele bebê, dos estudantes, da moça, do homem, enfim, de todos que estavam ali.

Cheguei em casa e acessei o site da hemeroteca digital disponibilizada pela Biblioteca Nacional, onde se encontram jornais desde o ano de 1800 até os 2000. Fui na capa do Jornal do Brasil para ler as manchetes do dia do meu nascimento e li: Marinha Argentina rompeu de vez com Frondizi. Essa era a principal manchete, não vou contar os motivos que levaram a marinha Argentina tomar a decisão do rompimento e nem quem era Frondizi, não vem ao caso.

Depois fui “folheando” o jornal e lendo: Greve paralisa 90% da indústria do aço nos EUA; Perón continua agindo para recuperar o poder; PSD não tem um nome seu para o Catete, o jeito é Lott, afirma pessedista; Policial revela à Câmara como ficou milionário: com “economias próprias”; Tarifas de ônibus: solução hoje; Diz presidente da Panair: “crise é culpa das próprias empresas, menos da Panair”; Favelados do Jardim de Alá vão ser removidos e queimados seus barracos; Greve no jóquei ameaça realização do Grande Premio Brasil; Vavá no Botafogo trocado por Paulinho e Rossi;  Theatro Municipal: Orquestra Dorenski; Teatro Mesbla: Negócios de Estado; Walter Pinto: Tem bububu no bobobó; nos classificados contratam-se Dactilógrafos e Funileiros; alguém vende um automóvel D.K.W. Vemague; na Revistinha, sai às quintas-feiras, a historinha Luizinha e Luizão; tem o Capitão Tormenta; O Bode e a Onça; no obituário tem o comunicado da missa do senhor Gregório Paes de Almeida.

Estas notícias estavam nas mãos de alguém, dentro de um ônibus, no dia do meu nascimento. O tempo é essa viagem pela história, essa inesgotável fonte que é a vida. Na tirinha o bode discute com a onça que o acusa de algo que ele não se lembra. A onça então diz: “Quer saber de uma coisa? Vamos tirar isso a limpo. Vamos repetir tudo como foi.” O tempo é isso aí, dona onça.

Ricardo Mezavila

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