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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Eu e Neruda em La Chascona


 
Nas asas da minha poesia vislumbro um encontro com o poeta Pablo Neruda, em sua casa, no Chile, conhecida por “La Chascona”, onde ele se encontrava clandestinamente com sua amante Matilde. Conversamos sobre marxismo e da importância da vitória de Salvador Allende para a implantação de uma sociedade socialista que se ramificasse por toda a América Latina.
Matilde era esperada ansiosamente pelo poeta que, entre um charuto e outro, olhava pela janela. Evidentemente que Neruda não participava dessa hipotética conversa, apenas eu conversava e ouvia seus comentários através dos seus versos.
Conto a ele sobre como o poema “Puedo escribir los versos más tristes esta noche” foi  importante quando eu comecei a me entender poeta e declamei o poema quando percebi que Matilde estava chegando:
Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros, ao longe”. O vento da noite gira no céu e canta. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu a quis, e às vezes ela também me quis... Em noites como esta eu a tive entre os meus braços. A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito. Ela me quis, às vezes eu também a queria. Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi. Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela. E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la. A noite está estrelada e ela não está comigo. Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. Minha alma não se contenta com tê-la perdido. Como para aproximá-la meu olhar a procura. Meu coração a procura, e ela não está comigo. A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores. Nós, os de então, já não somos os mesmos. Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis. Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido. De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos. Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero. É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento. Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços, minha alma não se contenta com tê-la perdido. Ainda que esta seja a última dor que ela me causa, e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
Terminei de declamar e Neruda recebeu sua amada em meus braços, foi le grand finale da minha performance.
Partido Comunista do Chile solicitou a exumação do corpo do poeta Pablo Neruda, morto em 1973. O pedido visa esclarecer as circunstâncias da morte do Nobel de Literatura. Morto 12 dias após o golpe patrocinado pelos militares contra o então presidente Salvador Allende, de quem era aliado, Neruda, ao que se sabe, foi vítima de um câncer de próstata. Os comunistas, porém, alegam que ele foi envenenado (Fonte: Veja).

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