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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Chegando do Cais Dourado




Conta a lenda que o capoeira e sua amada Iaiá eram apaixonados e onde um estava, lá estava o outro. Na romaria, no banho de cachoeira e na pescaria. Em fandangos, festinhas, reisados, era ele contra mestre, era ela pastorinha. Até que apareceu um moço fino e, loucamente, Iaiá se apaixonou e com ele foi embora, passeou de barco à vela e carruagem. E o capoeira que era valente chorou. Um dia a mulata no cais apareceu, correu para os braços de seu antigo amor que não lhe deu guarida, desesperada caiu no mundo a vagar, e o capoeira ficou com seu povo a cantar.

Essa história foi enredo em 1969 da Escola de Samba Vila Isabel, mas não lhe rendeu o título, que ficou com o Salgueiro com Bahia de Todos os Deuses. Eu tinha dez anos, o carnaval de rua ainda era festejado com muita alegria em quase todos os bairros do Rio. No Méier brincávamos no coreto que ainda resiste no Jardim, e nas matinês do Mackenzie e Clube Atlético do Méier.

Na década seguinte, houve a grande revolução nas escolas de samba, promovida por Fernando Pamplona e seu pupilo João Trinta. Tendo aprendido com Pamplona a dar os primeiros passos, como carnavalesco, Joãozinho ainda tentou ser bailarino clássico do teatro municipal, mas envolveu-se com os figurinos e cenários e acabou encontrando sua verdadeira vocação.

Assisti o desfile do Salgueiro de 1975 na Avenida Presidente Antonio Carlos, na companhia de minha mãe, fervorosa salgueirense e minha tia, passista, para quem acenávamos enquanto ela esbanjava sua graça ainda na concentração. O samba As minas do Rei Salomão é considerado, por mim, o melhor de todos, acho que pela influência e experiência que tive em ter assistido ao lado das minhas duas referencias em se tratando de samba. Também colaborou o fato da escola ser a campeã do carnaval naquele ano.

Finalmente em 1982 desfilei na escola do meu coração, Portela. Vivi uma das maiores emoções públicas que alguém pode viver, comparada a jogar no Maracanã talvez. Naquele ano uma outra escola fazia a contra revolução ao voltar às origens dos antigos desfiles e denunciar as “Super Escolas de Samba S.A.” Bumbum paticumbum prugurundun da Império Serrano foi a grande campeã daquele ano e a Portela segunda colocada.

O samba é uma família! Pensei isso ontem, quando voltava do show do Nelson Sargento com a noiva, filhas e neto. É um Cais Dourado onde a gente pode ir para dar adeus e para receber que vem chegando, para recordar as alegrias, matar as saudades e projetar o futuro. Mesmo com a alegria de ver o Salgueiro campeão de 1969, minha mãe tinha como seu samba preferido Iaiá do Cais Dourado.

Ricardo Mezavila

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